Post by Ana on Jun 20, 2007 15:10:31 GMT 1
Ex.ma Senhora Ministra da Educação
Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista
dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente. Fiquei a
saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que inventou,
sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.
Sim, a minha nova categoria, professora!
Que Querida! Obrigada!
E o que é que fui até agora?
Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação
Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era
aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida… Ensinar a brincar,
impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete
da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de
sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus
alunos. Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos
tenhamos esforçado por dar o nosso melhor. Aplicar tudo isto na vida
quotidiana…
Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu
queria ensinar! Era nova, tinha sonhos...
O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de
Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a
encaminhá-lo para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei
orgulhosa! Agora, peço-te desculpa Mano, como me arrependo de te ter
metido nisto, estou envergonhada!
Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues,
ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia
acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos
fins-de-semana, entre muitas outras coisas. Os alunos respeitavam-me,
os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me. E eu era feliz…
Saia de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre
sonhara, para ensinar como tinha aprendido!
Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA,
agora que não tenho tempo nem dinheiro
para educar os meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as
regras a meio (Coisa que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou
a adaptar-me, não tenho outro remédio: Entrego os meus filhos a
trabalhadores revoltados na esperança que façam com eles o que eu
tento fazer com os deles. Agora que me intitula professora eu não
ensino a lançar ao cesto ou a rematar com precisão à baliza, não
chego, sequer a vestir-lhes os coletes…
Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar
que enquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos,
nessa altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a
mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser
prática) e a explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a
pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão… E aqueles que
se recusam a deita-la fora porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados,
afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à
Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e
nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha
enquanto praticam exercício físico).
E os que não tomam banho?
E os que roubam ou agridem os colegas no balneário?
Falta disciplinar?
Desculpe, não marco!
O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a
participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas
(E quem fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos
obriga? Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu
tempo não lhe fez bem o estalo na hora certa?
Desculpe mas não me parece!
Pois eu agradeço todos os que levei!
Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar
com quem está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que
não é, com toda a certeza, o seu caso.
Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC… Uma hora! E eu não precisava de
ter escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma… Como a
médica de família, que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à
qual devo estar agradecida porque há quem nem médico de família tenha
– outro assunto) entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65
anos, porque é injusto o que ganho e o que congelou, porque pode sair
a sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca fui nem serei tão
boa professora como era antes de mo chamar!
Lamento profundamente a verdade!
Viana do Castelo
Ana Luísa Esperança
PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa
Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista
dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente. Fiquei a
saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que inventou,
sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.
Sim, a minha nova categoria, professora!
Que Querida! Obrigada!
E o que é que fui até agora?
Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação
Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era
aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida… Ensinar a brincar,
impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete
da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de
sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus
alunos. Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos
tenhamos esforçado por dar o nosso melhor. Aplicar tudo isto na vida
quotidiana…
Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu
queria ensinar! Era nova, tinha sonhos...
O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de
Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a
encaminhá-lo para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei
orgulhosa! Agora, peço-te desculpa Mano, como me arrependo de te ter
metido nisto, estou envergonhada!
Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues,
ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia
acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos
fins-de-semana, entre muitas outras coisas. Os alunos respeitavam-me,
os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me. E eu era feliz…
Saia de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre
sonhara, para ensinar como tinha aprendido!
Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA,
agora que não tenho tempo nem dinheiro
para educar os meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as
regras a meio (Coisa que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou
a adaptar-me, não tenho outro remédio: Entrego os meus filhos a
trabalhadores revoltados na esperança que façam com eles o que eu
tento fazer com os deles. Agora que me intitula professora eu não
ensino a lançar ao cesto ou a rematar com precisão à baliza, não
chego, sequer a vestir-lhes os coletes…
Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar
que enquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos,
nessa altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a
mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser
prática) e a explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a
pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão… E aqueles que
se recusam a deita-la fora porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados,
afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à
Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e
nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha
enquanto praticam exercício físico).
E os que não tomam banho?
E os que roubam ou agridem os colegas no balneário?
Falta disciplinar?
Desculpe, não marco!
O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a
participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas
(E quem fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos
obriga? Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu
tempo não lhe fez bem o estalo na hora certa?
Desculpe mas não me parece!
Pois eu agradeço todos os que levei!
Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar
com quem está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que
não é, com toda a certeza, o seu caso.
Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC… Uma hora! E eu não precisava de
ter escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma… Como a
médica de família, que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à
qual devo estar agradecida porque há quem nem médico de família tenha
– outro assunto) entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65
anos, porque é injusto o que ganho e o que congelou, porque pode sair
a sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca fui nem serei tão
boa professora como era antes de mo chamar!
Lamento profundamente a verdade!
Viana do Castelo
Ana Luísa Esperança
PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa